segunda-feira, 24 de maio de 2010

O olhar de uma Avaliadora Externa

Agradeço à Coordenadora do Centro de Novas Oportunidades da Escola Secundária de Pombal, Dr.ª Cristina Costa, o amável convite que me foi dirigido no sentido de testemunhar sobre o desempenho da minha recente actividade como Avaliadora Externa neste Centro. É com muito gosto que partilho convosco algum do meu sentir - dúvidas, limitações, dificuldades mas também prazer, expectativas e esperanças - no cumprimento desta função.

Como o próprio nome indica, o avaliador externo é um elemento que não faz parte da equipa técnico-pedagógica dos Centros de Novas Oportunidades e, consequentemente, permanece relativamente distante em relação à dinâmica da construção dos Portefólios Reflexivos de Aprendizagens. A minha curta experiência demonstrou-mo na prática, revelando que, por mais exaustiva que seja a análise que faço dos portefólios, e mesmo desempenhando a minha função numa “estratégia consultiva” (apoiando sempre que necessário o CNO, dando indicações ou sugestões para a melhoria das suas funções e contactando a equipa de profissionais e formadores antes dos júris no sentido de analisar com maior profundidade o desempenho do adulto), vários aspectos escapam a esta dinâmica central do processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências.

Porque julgo que escapam esses aspectos? Escapam porque a natureza do processo da construção do portefólio resulta no meu entender, das competências, do estilo de vida e das prioridades do adulto. Escapam porque o PRA é o resultado físico da soma de momentos do “aqui e agora” que acontecem não numa “curta” sessão de júri, mas durante a relação que o adulto estabelece com a equipa técnico-pedagógica desde o acolhimento, passando pelo encaminhamento até ao processo em si (nas sessões de acompanhamento com o(a) profissional, nas sessões de formação complementar, enquanto constrói individualmente o portefólio em sua casa ou interage com a sua rede social fora das portas do CNO).

Neste processo o elemento central é o adulto e um dos segredos da gestão desta dinâmica está na relação que se constrói entre o adulto e o próprio CNO.

As metodologias e técnicas do processo de RVCC, para além de regidas pelos referenciais que dão uniformidade à qualificação certificada, são técnicas e métodos moldáveis a cada indivíduo e toda a dinâmica da construção do portefólio é experienciada e “vivida” durante o próprio processo.
Assim a gestão desta dinâmica é uma competência, um dever e um privilégio da equipa técnico-pedagógica, de todos os que a compõem e, particularmente, do(a) profissional responsável pelo acompanhamento do adulto.

Quais os aspectos que nos escapam enquanto avaliadores externos?
Mesmo que mais tarde consigamos através do portefólio ou de informações da equipa vir a captá-los, escapam-nos diferentes momentos. Escapa, por exemplo, o momento, em que por causa de uma palavra, de um gesto, ou de uma atenção do(a) profissional ou outro elemento da equipa, o adulto “desperta” para o processo, as suas expectativas são correspondidas e tal influencia o seu desempenho. Escapa a hipótese de numa determinada sessão, o núcleo gerador ter sido tão bem enunciado, que o adulto, ficando motivado, propõe com criatividade diversos temas específicos. Escapa, e porque é muito difícil saber exactamente, como é que em determinado momento, a paciência, a escuta activa, a disponibilidade do(a) profissional ou de outro elemento da equipa desconstruíram receios, potenciaram a relação de confiança, motivaram o adulto e o fizeram apresentar um portefólio mais rico e verdadeiramente reflexivo.
Sendo um elemento externo, percebi como avaliadora que nunca conseguiremos captar a plenitude do processo mas que bons exemplos como os referidos, são prática comum no Centro de Novas Oportunidades da Escola Secundária de Pombal.

Paradoxalmente encontramo-nos enquanto avaliadores externos numa posição privilegiada para apreciar o processo, pois pelas funções desempenhadas e as responsabilidades inerentes a tais funções, ao participar nas sessões de júri, é-nos permitida uma visão ampla não sobre “a dinâmica”, mas “as dinâmicas desta construção”. Porque não há uma, mas várias dinâmicas possíveis e é estimulante poder observá-lo, senti-lo e vivê-lo! Mesmo não captando a totalidade das dinâmicas vividas, percebe-se muito facilmente quando não existem de todo, situação nunca por mim experimentada no desempenho da minha função de avaliadora externa, mas partilhada já por outros avaliadores em relação a alguns CNO’s (quem sabe se resultado da “massificação do sistema de reconhecimento de adquiridos” ou até da imposição de metas muito difíceis de alcançar se cumpridos os critérios de rigor, atenção, exigência e persistência, imprescindíveis ao desenvolvimento do processo com qualidade e não meramente com fins estatísticos)!

Colaborando desta forma com os Centros, é permitido ao avaliador contactar com “boas práticas” reproduzindo-as no futuro, ou procedimentos menos correctos a corrigir já no presente. Sublinho que, se a aproximação do avaliador ao longo do processo fosse maior, ele estaria a agir fora do âmbito das suas funções o que seria incompatível com as suas responsabilidades e perturbaria certamente a própria dinâmica.

É deste modo que encaro a minha experiência como Avaliadora Externa no Centro de Novas Oportunidades da Escola Secundária de Pombal. Ela reveste-se de memórias que guardarei comigo para sempre, relativas a candidatos e candidatas que comigo se cruzaram em “curtas” sessões de júri, mas que demonstraram todo o empenho de uma equipa técnico-pedagógica exigente, atenta, paciente e amiga que consegue com esforço e dedicação, abrir uma caixa de bombons há muitos anos e por diversas razões trancada, criando as melhores condições para que brilhem na montra das certificações alcançadas.

A todos um bem haja!


Alexandra Matias, Avaliadora Externa

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