Perante as exigências cognitivas e comunicacionais dos actuais contextos sociais, como conciliar, o reconhecimento, a validação e a certificação de competências-chave de adultos, com histórias de vida “ assentes” em experiências e práticas diversas, com a necessidade de uma educação para a solidariedade humana?
Ávila (2008) refere que as sociedades actuais, sejam elas centradas, na informação, no conhecimento ou na aprendizagem, convergem na importância que atribuem aos desafios que se colocam aos indivíduos e às organizações: não só as exigências são cada vez maiores, nomeadamente na esfera profissional, como tendem a evoluir a um ritmo sem precedentes.
Lima, (2007) contrapõe “uma educação não subordinada “à cultura do instrumento” e à “indústria cultural”, uma formação capaz de resistir à «adaptação dócil e aplicada à realidade», exigem sujeitos livres e autónomos em busca de aprendizagens livres e conscientes, da apropriação, reconstrução e transformação do conhecimento e não do simples adestramento a partir de formação que cindem, que fragmentam taylorianamente e que reificam os sujeitos pedagógicos. (…) Uma aprendizagem critica, não mimética, implica conhecer e seguir as regras heterónomas, mas também ser capaz de quebrá-las para assim, desaprendendo pode voltar a aprender; pressupõe consentir e aquiescer, mas também dissentir e resistir a certos valores e objectivos, exige intimidade com os conteúdos e as técnicas, mas as também distâncias crítica que fomente a sua reinvenção talvez seguindo o exemplo de Miró, segundo a tematização poética de João Cabral de Melo Neto, num excerto do seu poema O sim contra O sim, nos seja possível alcançar não a espontaneidade ou ingenuidade, mas a inventividade e a frescura de uma aprendizagem nova:
Miró sentia a mão direita
demasiado sábia
e que de saber tanto
já não podia inventar nada.
Quis então que desaprendesse
o muito que aprendera,
afi m de reencontrar
a linha ainda fresca da esquerda.
Neste sentido, é possível que uma educação ambidextra, plural, capaz de cruzar e integrar saberes, possa beneficiar das tensões criativas entre, por um lado, a destreza de um a mão direita que de tão destra e sábia se transformou sinistramente num factor de puro hábito, ajustamento e a amestração e, por outro lado, o discrepar, aparentemente mais descentrado da tarefa, desajeitado e algo inábil, de um mão esquerda que, menos sábia e competente, se assume mais livre e curiosa para aprender.
Tal como o pintor, que buscou novas vias, um «novo vocabulário de formas» e «um alfabeto pessoal», ganhando distância crítica da realidade mas imediata, após ter «esgotado os recursos expressivos da sua particular visão figurativa» (Malet, 1993, 2001), simbolicamente concentrados numa mão excessivamente perfeita e adestrada, também a educação durante toda a vida deve ser orientada no sentido de resistir criticamente à mera subordinação perante o ajustamento funcional à realidade; promovendo para isso uma educação para a solidariedade humana, aprendizagens críticas e, sempre que necessário, situações de desaprendizagem que permitam reaprender e aprender o novo.
Procurando, desta forma, romper o céu, para que, como num dos trabalhos de Miró, datado dos anos 50, o céu, entreaberto, nos devolva a esperança. “( Lima, 2007, págs. 145-146).
A Escola pode ser uma oportunidade para romper o céu…
Jorge de Sá - Formador de Cidadania e Empregabilidade